sexta-feira, 29 de abril de 2011

por Jeferson Torres(guitarrista, compositor e professor de música,bacharel em artes cênicas pela Universidade Estadual de Londrina)

Não há motivos para estudar música, já que não quero ser músico:


Foi o que já ouvi da boca de alguns. Convenhamos que há lá uma certa lógica na construção da idéia: músico é aquele que trabalha com música, sendo, pois, irrelevante o estudo da música àqueles que não tem o objetivo de ganhar seu pão tocando um instrumento musical.

Não obstante o silogismo que conclui o parágrafo anterior demonstre justificação, sua razão obscurece a ignorância que reflete. Só alguém que ignora o objeto mesmo da teoria musical, da harmonia, do contraponto e de outros assuntos relacionados ao universo musical poderia considerar inútil o estudo da música a quem não quer ser músico. Poderia aprofundar-me na questão, fazendo uso, para tal, de uma série de argumentos históricos ou filosóficos, mas prefiro, por ora, apelar a uma experiência prática. Proponho ao leitor que feche seus olhos e, por um minuto, atente-se aos sons que o rodeiam.




Estou redigindo este texto no cômodo mais silencioso de minha residência. O vazio sonoro é tal, que confesso ter percebido a suspensão dos tec-tecs de meu teclado. Apostaria com quem pudesse que, neste exato momento meu vizinho está assistindo Tv, e um carro passo na rua em frente de casa. Mas mais do que qualquer som externo, que revelou-me um universo em nunca-findo movimento, surpreendi-me com meu próprio som-movimento: minha respiração, um tímido ranger de dentes, o pé que levemente arrastou-se pelo chão ensaiando um passo. Estou redigindo este texto no cômodo mais silencioso de minha residência, e constato que o silêncio, de fato, não existe. Nada de novo. John Cage, submetido a uma câmara especial construída para impedir a manifestação de qualquer som, confessou ter ouvido atentamente o ritmo de seu batimento cardíaco durante a experiência. Cage compôs a peça musical 1:44: um minuto e quarenta e quatro segundos de silêncio, nos quais o espectadores eram convidados a ouvirem o som a sua volta. O público, neste caso, converte-se em compositor da obra musical.


Percebam, pois, que a proposta do presente texto não é nada original. Poderíamos observar o ocorrido com maior profundidade: o contraponto rítmico dos tic-tacs do teclado contra o batimento cardíaco, a melodia imprecisa do falar; a harmonia geométrica das cores num quadro de Kandinski, ou a melodia solitária de um traço num quadro minimalista; ou, ainda, num caso diverso, o caos polifônico da Babél pós-moderna: o som do metrô chegando corta o blá-blá-blá dos anônimos que se degladiam contra o tempo no curto espaço da porta do trem.


Ainda assim, a maioria continuará surda à música que a contém, e quando ligar o rádio, ou deixar a tv ligada, será apenas para ter algum som que lhe anestesie a solidão. Em algum lugar alguém se pergunta: mas pra que estudar música se não quero ser músico ? O pior surdo é aquele que não quer ouvir.

Jeferson Torres


Jeferson Torres é guitarrista, compositor e professor de música. É autor da trilogia Tudo sobre técnica aplicada à guitarra solo. Também desenvolveu trabalhos no teatro e é bacharel em artes cênicas pela Universidade Estadual de Londrina e blogueiro:  www.casadaguitarra.blogspot.com e www.artistaemconstrucao.blogspot.com .

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Dicas em Si menor

Funk

Funk (também conhecido como soul funk ou funk de raíz) é um estilo bem característico da música negra norte-americana, desenvolvido a partir de meados dos anos 1960 por artistas como James Brown e por seus músicos, especialmente Maceo Parker e Melvin Parker, a partir de uma mistura de soul music, soul jazz, rock psicodélico e R&B.
O funk pode ser melhor reconhecido por seu ritmo sincopado, pelos vocais de alguns de seus cantores e grupos (como Cameo, ou os Bar-Kays). E ainda pela forte e rítmica seção de metais, pela percussão marcante e ritmo dançante. Nos anos 70 o funk foi influência para músicos de jazz (como exemplos, as músicas de Miles Davis, Herbie Hancock, George Duke, Eddie Harris entre outros).

modos gregos II

terça-feira, 26 de abril de 2011

O mestre do improviso

Improvisação

O termo "improvisação" é largamente utilizado: ele pode ser aplicado tanto a um instrumentista fluente, imaginativo e realmente criativo, quanto a outro que tem um arsenal de clichês ensaiados, memorizados e que passa a combiná-los. Até certo ponto, a maioria dos guitarristas é um pouco de cada.
Tocar um solo para preencher um número pré-estabelecido de compassos, em algum ponto da música, não é o mesmo que tocar infinitamente até se esgotar. No primeiro caso, o melhor é analisar a melodia existente para obter inspiração. Geralmente depende-se de algum tipo de estrutura, para assegurar o efeito desejado e terminar o solo no lugar certo. No segundo caso, existem poucas restrições além da habilidade de criar continuamente novas idéias.

modos gregos I